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O Senado deve votar, nesta terça-feira (15), o Projeto de Lei (PL) 4.372/2020, que regulamenta o Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. A partir do ano que vem, o Fundo se torna permanente e, segundo especialistas em educação, a regulamentação é necessária para garantir a distribuição dos recursos já a partir de janeiro para as escolas, desde a educação infantil até o ensino médio. Caso isso não ocorra, há a possibilidade de perdas na ordem de R$ 3 bilhões advindos do Novo Fundeb para jovens de 1.500 municípios brasileiros mais pobres. Isso apenas em 2021.
Na última semana, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do projeto de lei. Entre as principais mudanças, está prevista a maior participação da União na composição do Fundo, que é a principal fonte de financiamento da educação básica no País. Atualmente, é de 10%. No entanto, até 2026, a participação federal vai chegar a 23%.
A Câmara dos Deputados deu um grande passo, na última quinta-feira, com a aprovação do PL 4372/20, sob a relatoria do deputado Felipe Rigoni (PSB/ES). A matéria que vai para análise do Senado contém algumas novidades que devem trazer ainda mais ganhos para a educação pública a partir do próximo ano.
Estudos demonstram que a priorização da Primeira Infância traz
grandes benefícios no desenvolvimento cognitivo, psicomotor e social ao
longo de toda a vida. Já a formação técnica e profissional ajuda o jovem
a iniciar um projeto de vida com uma profissão já definida e com a
possibilidade de uma carreira de sucesso. De acordo com levantamento
realizado com 2.200 entrevistados, com idades entre 13 e 18 anos, foram
citados como pontos positivos desse tipo de formação ser um bom começo
na carreira profissional, ter boa aceitação nas empresas e preparar
melhor para o mercado de trabalho. Destes, 76,1% atribuíram grande
importância a essa formação para conseguir o primeiro emprego.
A legislação atual permite que os estados façam parcerias com
autarquias, fundações públicas, institutos federais e, também, com o
Sistema S, que são instituições especializadas em educação profissional.
O objetivo é que permitir que a rede pública possa implementar o
chamado Itinerário 5 do novo ensino médio, pelo qual o aluno conclui o
ensino médio tradicional junto com a formação técnica e profissional.
Caso os entes da federação optem por acordos com essas instituições, aí,
sim, vai haver a distribuição de recursos. Ou seja, os alunos
matriculados continuam sendo da rede pública estadual, mas com o
currículo do itinerário 5 sendo realizado pela instituição conveniada.
A deputada federal Luísa Canziani (PTB-PR) destacou que o recurso não
será transferido diretamente para o Sistema S ou para outras
instituições que venham prover educação profissional, mas que os estados
vão decidir com quem conveniar. Segundo ela, o País deve ter uma
política de fomento à educação técnica e profissional “arrojada”, que
garanta formação de qualidade e emprego para os jovens.
“Negar a educação profissional aos nossos estudantes é negar
oportunidade de ascensão social e econômica desses jovens. Temos que
preparar os nossos jovens para o século XXI, para profissões que ainda
nem existem e emanciparmos a nossa juventude, que tanto clama por
oportunidades.”
De acordo com levantamento do IBGE feito no primeiro trimestre, a taxa
de desemprego entre os jovens brasileiros que têm entre 18 e 24 anos é
de 27,1%. Um dos fatores para o índice, avaliam especialistas, é a falta
de mão-de-obra qualificada.
“Os países da OCDE têm 50% de seus alunos cursando ensino profissional.
No Brasil, nós só temos 10% de alunos cursando essa modalidade de
ensino”, complementou a parlamentar.
Vale ressaltar que a formação técnica e profissional se apresenta como
uma das principais saídas para o Brasil acompanhar as transformações da
indústria 4.0. A necessidade de qualificação profissional vai ampliar
significativamente com as transformações disruptivas do paradigma
técnico-econômico, assim, a demanda por educação profissionalizante será
ainda mais importante para os jovens. Sendo assim, a educação
profissional é o caminho mais rápido para que eles se insiram no
mercado.
A lei permite que os Estados firmem parcerias com autarquias,
fundações públicas e serviços nacionais de aprendizagem. Os governos
estaduais terão a oportunidade de construir parcerias com a rede
existente hoje no Brasil de instituições especializadas em educação
profissional, como os Institutos Federais, Centro Paula Souza ou SENAI,
para implementar o Itinerário 5 do novo ensino médio nas escolas
públicas de todo o País.
Nos países desenvolvidos a educação profissional tem uma relação mais
próxima com o mundo empresarial. A efetividade da educação profissional
se traduz em emprego e ganhos de renda para os jovens e trabalhadores,
para isso é necessário acompanhar as mudanças tecnológicas de cada setor
e o mapa do emprego. Os serviços nacionais de aprendizagem são
referências na educação profissional pela qualidade dos cursos e, em
especial, pela oferta aderente à demanda do setor produtivo.
A solução já pode ser uma opção a partir de 2021 e é menos onerosa,
justamente porque a rede já existe. Com a regulamentação do FUNDEB,
haverá a ampliação de vagas do Itinerário 5, em parceria com
instituições de referência na formação técnico profissional.
Especialista em direito público, Karlos Gomes afirma que o projeto de
lei não "privatiza a educação”, como alguns partidos alegaram. “O
projeto apenas traz as empresas de iniciativa privada para participarem
da educação e da formação profissional de jovens. O acesso à educação
vai continuar a ser gratuito e universal, como prevê a Constituição
Federal”, avalia.
É importante diferenciar a participação das instituições filantrópicas e
confessionais no ensino fundamental e médio da participação dos
serviços nacionais de aprendizagem (Sistema S) na educação profissional.
Nesse ponto, a regulamentação do Fundeb é autorizativa, não impositiva.
Para as escolas confessionais e filantrópicas, o cômputo das matrículas
para efetuar os repasses está limitada a 10% do total de matrículas,
que, nesse caso, efetivamente drenariam recursos da rede própria estatal
para alunos que estão fora da rede pública de ensino.
Já as parcerias na educação técnico profissional no ensino médio
precisam ser construídas e reguladas pelos estados. Não há repasse
automático algum e sequer existem matrículas hoje para serem computadas.
A lei, aliás, permite que os estados façam essas parcerias com
autarquias, fundações públicas, institutos federais e, também, com o
Sistema S. Ou seja, se os estados decidirem formatar parcerias com o
Sistema S haverá o repasse de recursos, mas todos os alunos beneficiados
são alunos matriculados na rede pública estatal.
Catarina de Almeida Santos, professora
de Educação da Universidade de Brasília (UnB), afirma que o Fundeb é
importante para equalizar o acesso à educação, já que muitos municípios,
responsáveis pela educação infantil e o ensino fundamental, têm baixa
capacidade de arrecadação. Sem a regulamentação do Fundo, ela diz, não
há garantia do direito ao ensino.
“O montante de recursos do Fundeb, hoje, representa em torno de 63% das
matrículas. Sem o Fundo, esse quantitativo de estudantes têm o seu
direito à educação comprometido, porque os municípios, efetivamente, não
têm condição de ofertar [matrículas] sozinhos, sem o montante de verba
do Fundeb. Então, ele é fundamental, essencial para a educação básica”,
explica.
O atual modelo do Fundeb se encerra no dia 31 de dezembro. Em agosto, a Emenda Constitucional nº 108/20
tornou o Fundo permanente a partir de 2021. No entanto, para que a
medida funcione efetivamente, é necessária a sua regulamentação até o
fim deste ano. “A importância do Fundeb ser regulamentado esse ano é que
o atual termina no dia 31 de dezembro. Então, a partir de janeiro, nós
não teríamos mais Fundo, o que coloca em risco essas matrículas”,
reforça Catarina.
Em 2019, o Fundeb custeou R$ 156,3 bilhões para a rede pública. O Fundo que financia a educação no Brasil é composto por 20% da receita de oito impostos estaduais e municipais, além de valores transferidos de impostos federais. Caso seja aprovado pelo Senado, o texto atual prevê que as novas regras vão passar a valer a partir de abril. No primeiro trimestre de 2021, os recursos vão ser distribuídos conforme os critérios do Fundeb atual.
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